Friday, October 12, 2007

Um adeus


Ainda na faculdade, fomos eu e a Claudia entrevistar o Antonio Abujamra que estava com uma peça (O Contrabaixo, de Patrick Suskind) no Centro Cultural Vergueiro. Não me lembro se era uma entrevista pra faculdade ou pro jornal que eu trabalhava na época. Enfim, a peça era um monólogo maravilhoso, desses com a cara dele, irreverentes, rabugentos e intensos. Ao final do espetáculo, fomos entrevistá-lo. Logo nas primeiras perguntas senti que ele tava sem paciência praquela conversa.

- Abujamra, você é sempre mal humorado assim ou é pessoal?
- Se você tava procurando alguém bem humorado porque não foi entrevistar o Paulo Autran?

Amei a resposta, ele respeitou a pergunta, demos muita risada e, a partir daquele momento, fizemos uma entrevista gostosa e divertida. Divertida nos padrões dele, claro.

Só contei essa história pra falar do Autran, falecido hoje aos 85 anos. Assisti algumas peças com ele, todas maravilhosas e, apesar de nunca tê-lo entrevistado, sempre fiquei com essa impressão, de que ele era uma pessoa simpática, leve, sorridente... feliz.

4 comments:

Marcelo said...

Entrevistar o ABUJAMRA!!! Puta Merda!!! Olha só a história que você vai poder contar, hein!
Formidável!
QUE INVEJAAAAAAA. Nem sou jornalista, nem saberia entrevista, mas mesmo assim: QUE INVEJAAAAAA! Fiquei triste também com a morte do Paulo Autran. Mais triste ainda por não ter ido em nenhuma peça dele...

Marcelo said...

A propósito, sobre aquela discussão dos impostos sonegados pelos banqueiros, eu publiquei texto que talvez te interesse... Trata-se de renúncia fiscal. E quanto mais eu me informo, mais eu me convenço: ô governinho ORDINÁRIO que foi esse do PSDB...

cintia said...

É uma história legal mesmo. E tem outra que eu também adoro, mas agora com o próprio Autran. Num monólogo que fui assistir dele, Quadrante, ao final do espetáculo ele recita "Aurora da minha vida" (Casimiro de Abreu). Quando ele terminou, a platéia ficou muda. Ele teve que falar, duas vezes, que aquele era o momento dele ser aplaudido. Nem preciso dizer que foi uma emoção só e não sei por quantos minutos ele foi ovacionado. Lindo.
Vou agora pro seu blog pra ler o texto.

Claudia said...

Oi Cintia...tudo bem?

Voltei de viagem ontem (de folga Jericoacoara, 50 graus...) e entrei no blog para te ver, ver o Marco e a família... Tudo bem com vcs? A história do Abujamra foi assim: eu queria entrevistá-lo sobre Carnaval, para a RadioEncontro, onde eu trabalhava na MPM/Lintas,lembra? Ele super, super, super mal-humorado, deu um chá de cadeira em nós duas de horas... Vc fiel escudeira, claro, me ajudando... Eu perguntava de Carnaval, o que ele gostava, do passado, presente, sei lá... E ele dizia "Acho muito chato". Aí, vc, claro, puta da vida, não teve dúvidas e explodiu: Escuta aqui, vc é sempre assim mal humorado? E eu pensei: Puta merda, agora o cara vai me pôr para correr e num vai querer gravar nada mesmo, tô ferrada... Toda CDF que sempre fui. A reação dele - tratando-se de Abujamra já era até de esperar - foi contrária: soltou uma gargalhada e falou do Paulo Autran... Depois, disso tudo disse: "Vamos gravar sim! Tenho o programa especial em tape aqui na bagunça da minha biblioteca! By the way, como intérprete, Abujamra recebeu o prêmio de melhor ator com aquele monólogo, era "O Contrabaixo", de Patrick Suskind. O ano era 1989. Histórias que ficam... Saudades, bjs, Clau