... e seja feita a vontade da maioria. E assim foi. E correndo o risco de ser apedrejado (e me importando zero com isso): essa foi a parte fácil. O pior vem agora. Porque "ganhar o jogo" é fácil. E o pior de tudo é que tem muito americano que quase vê isso como um jogo: democrata X republicano é flaXflu, corinthiansXsão paulo - eu quero que ganhe o "meu time" - sem perceber que embora exista, claro, o prazer em ver o seu "time" ganhar, a comparação acaba aí, no "ganhar". O seu time ganha, e não precisa fazer mais nada: ganhar era o objetivo, o final, o título. Quando o seu time está concorrendo pra presidência de um país de tamanha importância global, ganhar é só o meio - o fim é outro. E embora as pessoas digam: "é claro, eu sei disso!" quando se levanta essa "questão", eu acho que só agora é que vai cair a ficha. Que o que importa não é o teu time: é quem vai segurar esse troféu lá em cima da cabeça, o tempo todo, por quatro anos, e não colocar o troféu na prateleira e sair pra comer pizza por, well, quatro anos.
"mas, mauro, voce acha então que o Obama não é um bom candidato, e não vai ser um bom presidente?" - nada disso. Acho que ele pode ser excelente. E acima de tudo, espero que ele seja. Assim como acho que McCain também pode ser excelente - eu não simpatizo com o "time" dele, mas acho que ele é confiável. O que é 90% do que faz um presidente, if you ask me. Acho que McCain seria eleito se ele fosse o candidato Democrata. E ainda acho que ele seria eleito mesmo que concorrendo contra Obama, se ele fosse Democrata e Obama republicano. Oh, shut up! É o que eu acho, e pronto. É sabido que as pessoas votaram no Obama (é cool votar nele - todo teenager votou) e contra os republicanos (ou seja, McCain). Muita gente que votaria em McCain está tão desapontado com o governo Bush, que a associação à ele (por mais que McCain tenha tentado manter distância) foi uma sentença de morte.
Mas deixa eu me conter um pouco, pois não estou aqui pra falar do que poderia ser, e sim do que é. Pra deixar bem claro, eu queria que Obama ganhasse. Meus motivos são diferentes da grande maioria, e embora grande parte desses motivos não venha ao caso aqui, o principal é o seguinte: o povo americano está desanimado, quase deprimido com a situação atual. E precisa de esperanças, de "change". Essa mudança pode não acontecer (mesmo com Obama no poder) mas a "esperança" de mudança vai injetar um ânimo necessário em todos. É meio o lance da banda, que tocava na janela da moça feia, que achava que a banda tocava pra ela. Obama é a "banda". Essa é a parte boa.
Infelizmente, tem a parte ruim. E é bem ruim. A parte que fez com que o Al Gore se recusasse a ser candidato. O ruim é que essa crise não tem solução imediata - se tiver solução, já é ótimo. Mas solução imediata, em 4 ou 8 anos, não tem, não existe. Mas ninguém vai querer saber disso. O "messiah" foi eleito, e ele vai nos "guiar até o caminho prometido". (yeah, yeah, as pessoas são ingênuas desse jeito sim). Eu não acho que um presidente branco é melhor ou pior que um negro, latino, etc. Não acho que deva importar. As pessoas se esquecem rapidamente que um advogado negro foi eleito como prefeito da cidade de NY (Mayor Dinkins) - o ultimo democrata a ser prefeito de NYC (de 90 a 93) - quase que baseado na cor da pele, e não capacidade. "Estava na hora de NYC ter um prefeito negro". E que durante os 4 anos como prefeito, ele fez uma bagunça atrás da outra. O mandato de Dinkins foi tão ruim, que caiu no esquecimento (e fez com que uma cidade de maioria gritante democrata tenha eleito republicanos pra prefeito de 93 até agora, 15 anos depois) - porque o candidato certo para o cargo é o melhor candidato, não o mais escuro, mais claro, o mais politicamente correto.
O que eu quero dizer com isso? Que eu acho que ser negro pode prejudicar a presidencia de Obama - assim como ser "verde" fez com que a candidatura de Al Gore se tornasse impossível. É assim: se McCain (ou um obama branco) ganhasse, existiria a esperança de um novo presidente, e só. Ninguém ia ficar em cima, olhando pra tudo o que ele fizer, esperando que algo dê muito errado (pra meter o pau com os "eu falei, nao falei?"s), ou esperando uma solução mágica (que, convenhamos, não existe). E assim, o cara poderia respirar, e tentar fazer o que ele tem que fazer, que é trabalhar - duro - pra reverter essa situação. Quem acredita que ele (ou qualquer presidente) pode consertar tudo da noite pro dia, acredita também em ataque súbito do coração (que no fundo não passa de um ataque que foi sendo criado por anos de abuso e mal-tratos: ninguem tem um coração perfeitamente saudável que "subitamente" para de funcionar). Isso vai levar tempo, coragem, trabalho, e muito ovo na cara. Al Gore sabe que a crise de energia global não tem solução fácil, nem rápida. Que o aquecimento global não pode nem ser provado, nem desprovado. E que ele tinha uma chance fora do comum de ser eleito - c'mon, o cara ganhou o prêmio Nobel da Paz por ter feito um programinha legal de powerpoint! Ele tinha a presidência garantida - até antes disso ele já tinha sido eleito no voto popular pra presidencia, imagina agora. Mas ele sabe que aí, teria que "resolver" o problema que ele mostrou no powerpoint dele, e esse problema nao tem solução assim. Então, melhor ficar com a fama de ser o que "poderia". É assim que eu vejo o Tancredo Neves (e a esposa vai me matar por isso) - mas ele era mais um que tinha um apoio da "juventude", e todo mundo esperava TUDO dele. A solução do Brasil! Que, claro, ele não seria. Ninguém é, não existe um homem ou uma mulher que seja. A solução é um trabalho comprido, coerente, e em conjunto com um monte de pessoas. E passa a ser o problema, pois no Brasil pouca gente entende o que significa trabalho em equipe. Ou resultado a longo prazo - "pra que? pra outro presidente levar o crédito? ah, não, isso nao re-elege ninguem!". Entrou o Lula - que eu desgosto, mas que até eu acreditei um pouco que seria a "solução". Sopros de pureza juvenil me fizeram acreditar. Eu sabia que ele ia entrar matando a pau. E não foi nada disso. No caso dele, nem pelos motivos que eu estou falando aqui sobre o Obama - foi por sofrer do problema que muito politico sofre no mundo (e que praticamente todos no Brasil): o que se diz em campanha serve só pra ser eleito, não pra governar.
Voltando ao Obama, essa expectativa enorme pode criar um problema desnecessário durante o governo: a crença de que "um novo tempo está aí", e que agora tudo vai se resolver. E ao invés de deixar o cara governar em "paz", pra resolver o que der dos problemas mais imediatos e fazer a cama pra resolver os problemas de médio e longo prazo, vão ficar em cima dele, esperando a "mágica" acontecer... Eu espero estar (muito) errado - mas acima de tudo, espero que ele já tenha pensado (muito) nisso tudo, e já esteja mais que preparado pra bomba que vai pegar nas mãos...
O Paulo, marido da Cláudia (amigos da cintia-nossos) escreveu um texto maravilhoso, genial até, que eu ia colocar no final deste post - mas ficou tão ridiculamente comprido (o post) que eu não acho que alguem esteja mais lendo isso - então vou colocar num post separado...
Wednesday, November 5, 2008
now what? (e agora?)
Posted by mauro at 2:26 AM
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